A vida não existe, ela tem que ser inventada. É por meio das formas que criamos como imagem ou como palavra que o olhar adquire a luz que lhe permite ver. A experiência do criar produz desequilíbrio, interrogações, dúvidas, surpreendendo a quietude repetitiva do mundo. (Souza et al, 2001:07)
Esta citação me reporta ao inicio do meu trabalho de terapeuta ocupacional em educação e na clínica, pois só estabelecemos a forma de agir conjugando teoria e práxis. A proposta de atuação em educação, especialmente em educação inclusiva, requeria a invenção deste trabalho que, na época (1990), não tinha uma inserção significativa no discurso e na atuação da Terapia Ocupacional no Rio Grande do Sul.
A educação dá conta de um universo infinito de possibilidades de atuação e é um meio propício ao trabalho interdisciplinar/ transdisciplinar. A Terapia Ocupacional contribui com a educação oferecendo uma visão ampla dos sujeitos envolvidos no processo do ensinar e do aprender, entendendo este processo como algo muito singular sendo construído pelos seus participantes. Na construção-reconstrução pude contar também com o corpo teórico da psicanálise.
A origem do meu trabalho de terapeuta ocupacional em uma escola está ligada ao interesse em observar e agir em relação ao desenvolvimento global das crianças e possibilitar e articular a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais no ensino regular. Esta idéia exigiu um certo “ineditismo” uma vez que na graduação ainda não se falava nesta possibilidade e nem líamos publicações neste sentido. Por este motivo esta atuação foi sendo construída aos poucos com um suporte de teorias sobre o conhecimento humano. Cabe destacar que, durante este processo, os diálogos com outros T.O.s e com outros técnicos foram alicerçando a proposta do Centro Integrado de Desenvolvimento, que é o espaço clínico e escolar onde atuo.
A articulação da Terapia Ocupacional com a educação permite compreender como a criança se relaciona com os outros e com os objetos do conhecimento. Uma das formas desta articulação é através das entrevistas com a família e a mediação desta com os professores. Estar, assim, no processo é ter possibilidades para que, junto aos professores, possamos adequar a proposta curricular às necessidades e interesses das crianças, considerando sua singularidade e seu envolvimento com o grupo.
Estabelecer uma relação de confiança com as crianças e com seus familiares possibilita portas abertas ao diálogo constante, que é fundamental para a decorrência do trabalho.
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É necessário que o terapeuta ocupacional possa analisar, desenvolver e aplicar atividades que facilitem o aluno com necessidades educativas especiais participar de forma “plena” das atividades de sala de aula, adaptando o material para uso de cada um. Esta forma de intervenção permite ao T.O. ter um contato intenso com a sala de aula e as atividades ali realizadas, mantendo uma oficina permanente para confecção de recursos pedagógicos e terapêuticos, bem como a adaptação do espaço de convívio dos portadores de deficiência.
Desta forma, verificar possibilidades de adaptações curriculares, estruturais e de pessoal, que dêem conta de atender com qualidade a demanda escolar, é também atuação da terapia ocupacional no contexto do Centro Integrado de Desenvolvimento. É importante perceber aspectos que a escola deva atuar com seu trabalho interdisciplinar e momentos em que a indicação de um atendimento individualizado é a melhor alternativa. Trata-se de visualizar alternativas clínicas relacionadas aos aspectos de dentro e de fora da sala de aula.
Fazer os encaminhamentos necessários, respeitando estas duas formas diferentes de atuação, que em muitos momentos se completam, também diz respeito às ações de Terapia Ocupacional.
Colaborar para a formação dos educadores no sentido do desenvolvimento das competências de cada profissional nas suas ações, mantendo o diálogo sobre os conteúdos teóricos de referência e os princípios que caracterizam o projeto pedagógico, é um espaço importante de atuação da T.O. Há um conjunto de orientações que constituem procedimentos profissionais específicos, cujo domínio depende da reflexão e observações constantes, como planejar, gerenciar, avaliar, analisar e falar sobre, que quando articulados em equipe interdisciplinar trazem um resultado significativo para os envolvidos na trajetória.
Além da criação e da gestão das situações de ensino junto à equipe, o trabalho da Terapia Ocupacional é fundamental nos espaços escolares, também considerando os relacionamentos, as observações, o valor do lúdico na aprendizagem, ou seja, a análise das atividades, que é o nosso fazer, amplamente instituída. Podemos considerar que estamos constituindo mais uma identidade para a Terapia Ocupacional.
por: Cheila Maria Schröer*
*Terapeuta Ocupacional (IPA), especialista em estimulação precoce (HCSA), especialista em desenvolvimento social da família (ULBRA), formação em psicanálise (APPOA), diretora e terapeuta ocupacional do Centro Integrado de Desenvolvimento. |